MARIA RAMOS SILVA

 

(...) A pedra não é talhada a partir da ideia. Pelo contrário. Quando encara o bloco e começa a cortar e esculpir procura uma imagem que vai saindo de si próprio. Obtida essa imagem, apreende o que a obra lhe sopra. (...)

(...) É assim que o ciúme pode resultar de um acaso. Ao contrário do pintor que desbrava o branco da tela, o obreiro da pedra vai escavando até encontrar algo. Quando fazia escultura ao vivo em Loures, todos os dias via passar um rapaz que mirava um artista. Depois da obra feita, o pequeno perguntava algo insistentemente ao pai. Simples. Ou nem por isso. Queria saber tinha o escultor adivinhado que aquilo estava lá dentro.(...)

(...) Ricardo começou por disciplinar o ferro, depois de dez anos a trabalhar como serralheiro civil na Companhia Carris de Ferro de Lisboa. Quando assistiu a uma exposição de João Limpinho na Malaposta decidiu-se por novos avanços. Deitou mãos às peças de autocarros e dedicou-se reciclar parte do lixo em arte, até mergulhar de cabeça na potencialidade do ferro. Do desenho bidimensional, cuja tridimensionalidade é conseguida através das várias sombras, pulou para a pedra, uma paixão nascida os tempos do curso de Escultura. “Pó, barulho, máquinas. Mas é fabuloso.” (...)

 

MARIA RAMOS SILVA, Jornalista

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